Mistérios de São José dos Campos (Parte 1)

Algumas histórias são absurdas: o túnel da Igreja Matriz, o mar do Banhado. O que é verdade e o que é uma lenda urbana? 

1-Assassinato no Vale Rodeio (VERDADE)

hqdefault-2Em uma tarde de junho de 1999, professores de ensino fundamental acompanharam os alunos em uma excursão ao Vale Rodeio Kids. A versão infantil do evento tinha touro mecânico, bezerros e um Camicaze. À noite, no Vale Rodeio Show, um crime seria lembrado como um dos casos mais emblemáticos da cidade de São José dos Campos.

No dia 21 de maio de 1999, a estudante Regiane Maria de Souza, de 17 anos, esperava pelo show da dupla Zezé di Camargo & Luciano, quando foi atingida na cabeça por uma bala perdida. Ela foi levada ao hospital da Vila Industrial, mas não resistiu. Outras pessoas também foram alvejadas, mas sofreram ferimentos leves. 

A notícia repercutiu na região, e a dupla prestou depoimento na Polícia Civil de SJC; eles apareceram no SPTV (na época não era Vanguarda). Ao final do inquérito, concluiu-se que Luciano Camargo teria incitado o público a invadir a arena, o que gerou a confusão.

Tempos depois, descobriram que um Policial Militar fora de serviço foi quem efetuou os disparos. Luciano foi condenado e obrigado a ressarcir a família da vítima por danos morais.

 2- Lista de mortos na festa 1.º de maio (MITO)

OIG.fQ4dVquAXE

Em um bairro de periferia, uma lista colada atrás da Igreja alertava quem seria assassinado

São José dos Campos é uma cidade do interior de São Paulo. O município é conhecido por ser a capital do Vale do Paraiba, e vanguarda em tecnogia. Apesar dos títulos, a cidade mantém traços provincianos. Marcada por inquéritos sobre Sacis e Corpo seco, a cidade foi palco de um emblemático caso de ‘assassinatos em série’.

A Festa do Trabalhador no Parque Novo Horizonte acontece desde a década de 70, e reúne noventa mil pessoas todos os anos. 

Os rumores da lista de morte teriam começado na década de 90, época que as quermesses eram o ambiente preferido da bandidagem; onde se perfaziam com as piriguetes, bebiam corote, esbarravam nos transeuntes e arrumavam confusão.

Fatos sobre a Lista

  • A lista é conhecida como lista da Festa 1º de Maio.
  • A lenda se popularizou a partir dos anos 90, sendo transmitida oralmente. 
  • Segundo a lenda, durante os 3 dias de festejos do Dia do Trabalhador, no Parque Novo Horizonte, uma lista era anexada atrás da igreja, indicando quem seria executado. 
  • A Festa do Trabalhador acontece desde a década de 70 na cidade de São José dos Campos. Os rumores começaram na década de 90.  
  • Interpretações: É caminho comum entre os moradores que a lista era um método que os bandidos utilizavam para ameaçar os rivais. 
  • Na cultura popular: Um morador presenciou um sujeito colando a lista. Interrogando-o, alegou que ‘estava cumprindo ordens …’.  
  • Dizem que apenas uma regra era respeitada pela bandidagem: Ninguém seria executado se estivesse acompanhado da mãe ou da ’mina’. 

3- O monstro do Riozinho do Bulica (MITO)

Na zona leste de São José, existe a lenda do monstro que habitava um lago.

Riozinho do Bulica, como era conhecido, foi por muitos anos a praia dos alunos das escolas: Geraldina Coelho Monteiro, Dorival Monteiro e João Ferreira. Quem procurava um local para matar aula, fumar maconha, esse era o local. Nesse oásis, o educando ficaria longe dos pais e vizinhos, e ainda poderia se divertir. 

OIG.JQK_O

No auge de visitação, repercutiu uma narrativa a respeito de uma movimentação esquisita dentro rio, espantando os frequentadores. Durante o intervalo das escolas, entre um Mupy e uma bolacha, só falavam desse assunto. Pouco tempo depois, o monstro do lago Nancy estava habitando o Riozinho do Bulica. O rio perdeu o fluxo de visitantes, pois descobriram que o tal “monstro” era, na verdade, um cavalo morto.

4 – Mar do banhado (MITO)

Um dos mistérios de São José dos Campos é o mar do Banhado. “Como assim, é  impossível o mar chegar aqui, a não ser por uma tsunami, como a que matou os dinossauros! […]”.

Banhado_-_SJC_-_Mirian_Menezes_de_Oliveira_(03)

Por que o Banhado é chamado de Banhado?

Até 1912, antes da derrubada da mata do Banhado (sob contrato com a Central do Brasil), a região era um imenso brejo que ficava alagado após enchentes do Rio Paraíba; isso ocorria até antes da construção das represas de Santa Branca e Paraibuna: 

“A meninada costumava adentrar no banhado e lá buscar araçãs, bananas do brejo, pitangas, amoras, maracujás roxo, goiabas, brejaúvas, coquinhos tuncum e até palmitos. Quando aconteciam as periódicas enchentes do Paraíba a criançada fazia folias aquáticas.” (Jairo César de Siqueira)

Por que o povo diz “Mar do Banhado? 

No inverno, os 5,1 milhões de m² do Banhado ficavam sob uma imensa nuvem de neblina que encobria toda a paisagem, dando a impressão de um imenso mar. No escuro a sensação era maior, pois as luzes das casas pareciam pequenos barcos no meio do mar.

Por que não existe mais a neblina no Banhado?

Segundo a pesquisadora Maria Paulete, não é que não existe, mas a intensidade e a frequência do nevoeiro diminuiu. O aumento das ilhas de calor, a mudança no regime dos ventos de superfície, somada a seca e ao encurtamento do inverno pelas mudanças climáticas podem ter sido os responsáveis pelo fim do nevoeiro.

Desde 1915 o Banhado está nu. A vegetação foi arrancada pela Central do Brasil, quando a empresa precisou fazer estoque de madeira para suas caldeiras. Em seguida a prefeitura mandou drenar as lagoas e secar os brejos. Desde então são raros os momentos em que a neblina aparece.

O Banhado e a História.

D4EB9B7A8674879C81965DD9B03454B5

  • Às três horas da tarde, do dia 26 de março de 1822, o botânico e naturalista Auguste de Saint-Hilaire chegava à vila de São José da Paraíba. Ele encontrou uma povoação modesta com casinhas de barro e uma pequena igreja. O que ele achou grandioso foi a vista do Banhado; onde teve um breve descanso, antes de partir para Jacareí. O francês veio para o Brasil em 1816 (ele tinha 36 anos),  e estava acompanhando a missão extraordinária do duque de Luxemburgo, que tinha por objetivo resolver o conflito entre Portugal e França.

8dacbcc866ef3fcdef6c_1080x720_0_0

  • O escritor e jornalista Altino Bondesan, quando veio a são José na década de 30, para se tratar de uma tuberculose, ficou encantado com o Banhado. Na época a Avenida São José era rodeada por casarões e a vista do Banhado era restrita aos proprietários. Ele conta que naquela época você tinha que atravessar por uma viela, que hoje é a delegacia de polícia, para ver o banhado. Ele descreve a paisagem:

” Víamos o espetáculo exuberante do brejão: casinhas escondidas pela folhagem, as águas das valetas brilhando, o verde sujo do capinzal, alguns eucaliptos majestosos. E o Paraíba, brincando de esconde-esconde, ziguezagueando preguiçoso, no rumo leste.
O sol ia mergulhando lentamente num mar de sangue. A luz horizontal baixava sobre a vegetação, alguns focos expeliam espirais de fumaça, ouvia-se o trinar dos pássaros e tudo se constituía em visão triste, provocando na gente uma vontade de chorar”

Mais tarde, em 1938, o então prefeito Francisco José Longo declarou como sendo de utilidade pública a vista do Banhado e mandou demolir as casas que ficavam do lado direito da rua São José; que compreendia as ruas Rubião Júnior e Coronel José Monteiro.

Em junho de 2012, parte do banhado foi transformada em uma área de conservação e proteção integral.

5- Túnel entre a Igreja matriz e a igreja de São Benedito

13235327_989908744449625_7297184984424204319_o (1)

Esse túnel é uma incógnita, e até hoje não sabemos se ele existiu. Contudo, ele está documentado. O jornalista Agê Júnior relatou em São José dos Campos e sua História:

“Mais tarde,os jesuítas construíram um convento e a Matriz, que eram ligados por uma galeria subterrânea, prevenindo-se de ataques de índios, coisa comum na época.”

No entanto, outros especialistas em história de São José dos Campos refutam essa história do túnel. Veja esse texto de Carol Tomba :

“Muito se comenta, mas ninguém de fato chegou a comprovar. Um possível túnel para a passagem de escravos entre a Igreja São Benedito até a Igreja Matriz de São José, no marco zero da cidade. Segundo o historiador Akira Umeda, do Departamento de Patrimônio Histórico da FCCR (Fundação Cultural Cassiano Ricardo), não há comprovações sobre a passagem.
“Muitas pessoas de São José dos Campos, principalmente as mais antigas, contam a história da passagem e do túnel que começa na Igreja de São Benedito, mas como toda lenda, há várias versões e nenhuma comprovação. Uma das versões é que existe uma passagem da Igreja São Benedito até o Banhado. Outra versão estende o percurso até a Igreja Matriz”.

11149178_10203748563734887_527619834_n

Para o historiador, o túnel estaria de acordo com o que se conta atrás do altar da Igreja São Benedito e atrás do alto da Matriz. “Acredita-se que esse possível túnel serviria para a fuga ou proteção dos escravos no Século XIX.

Na Igreja de São Benedito, de fato, existe uma parte de madeira no chão, cimentada e concretada, como um alçapão, que poderia dar para algum túnel. Mas nunca foi verificado por pesquisas arqueológicas ou qualquer outro estudo sobre esta suposta passagem dar para um túnel”, diz Umeda.
Sobre a construção do possível túnel, também não há muito o que precisar. “Ele pode ter sido construído junto com a Igreja ou posteriormente, visto que ela começou a ser construída em meados do Século XIX e teve diversas e longas etapas. Também não há estudos que comprovem se há alguma passagem na Igreja Matriz, principalmente por esta versão que conhecemos ter sido construída recentemente, em 1936”, completa o historiador.”

6 – Trem Bala em São José dos Campos (MITO)

OIG (23)

O projeto foi apresentado em 2010, pelo governo Dilma, para facilitar a logística dos jogos do Rio. Porém, em 2013, o governo foi forçado a adiar a concessão, após falta de interesse das construtoras, que se queixavam do modelo de concessão.

Quando a economia azedou em 2014, o projeto foi esquecido, e a única bala que recebemos é a perdida. 

7 – Cristo redentor em São José dos Campos (?)

OIG (24)

É um mistério. Dizem que a estátua do Cristo pertence a uma distribuidora de frangos, outros dizem que ela está dentro do cadeião do Potim. Eu encontrei esse texto no grupo Resgatando S. José dos Campos:

“No início da década de 30, Vila Ema teve o seu Cristo Redentor, construído em concreto armado, com 3 metros de altura, e que, como tantas outras coisas em São José dos Campos, desapareceu, sem deixar vestígios.”

Compartilhe 🏁

12 comentários em “Mistérios de São José dos Campos (Parte 1)

Adicione o seu

  1. Eu sou joseense, recentemente tive um insight e decidi escrever sobre minha cidade natal e meu país, a dificuldade que encontrei em localizar material aprofundado foi e ainda é grandíssima, mas aqui encontrei um pouquinho dela, obrigada por me inspirar à continuar minha busca professor!

    Curtir

  2. Olá Professor!
    parabéns pelo seu trabalho, eu morei nos anos 90 na cidade de sjc no bairro Santa Inês 1, hoje eu moro em SP, eu tenho tios e tias que ainda mora aí no bairro Castanheiras, e ouvi todas essa história que você contou no seu blog foi muito nostálgico ler sobre elas e lembrar de um tempo muito bom que só quem viveu sabe como foi é emocionante.

    O Riozinho do Bulica onde precisamente ele ficava mesmo? Tem como você me falar a localização dele?

    Parabéns e Obrigado!

    Curtir

Deixe uma resposta inteligente

Crie um site ou blog no WordPress.com

Acima ↑

Dentro da Chaminé

Pensando fora da caixa, e dentro da chaminé.

Dentro da Noite

Diego Del Passo

Chicoabelha's Blog

Just another WordPress.com weblog

Valsas solitárias

Relatos inconstantes que o tempo deixou para trás